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Nas Entrelinhas

Publicidade começa a ficar mais atenta aos povos indígenas

Agências usam jogos eletrônicos e entretenimento para ajudar a combater o garimpo ilegal e discutir as mudanças climáticas

A propaganda brasileira está mais atenta aos povos indígenas, que somam 1,7 milhão de pessoas no país, e às mudanças climáticas, tema a ser discutido na COP30, em 2025 em Belém (PA).

A agência AlmapBBDO e o Greenpeace Brasil lançaram este mês o “Flying Guardians” (Guardiões Voadores), uma modificação no jogo on-line “Flight Simulator”, da Microsoft, que permite sobrevoar a floresta amazônica e encontrar pontos de garimpo ilegal e desmatamento em tempo real, especialmente nas terras Yanomami, Kayapó e Munduruku. A ideia é atrair o público “gamer” e chamar a atenção para áreas desmatadas nas terras indígenas.

Isso foi possível graças à utilização das imagens de satélite da Planet Labs PBC, líder mundial nesse segmento. “Era importante que os ‘gamers’ não apenas ouvissem falar nos impactos da devastação na Amazônia, que já estão no nosso imaginário, mas que fossem testemunhas em tempo real”, afirma Deborah Vasques, diretora de criação da AlmapBBDO.

O jogador pode emitir um alerta e informar as coordenadas geográficas de alguma imagem suspeita nas terras indígenas. Nos dez primeiros dias após o lançamento do jogo, que entrou no ar em 3 de abril deste ano, 570 alertas foram emitidos pelos jogadores que percorreram um total de 31.786 km. Os alertas são enviados ao Greenpeace e se somam aos dados levantados pelos profissionais da ONG que monitoram a região.

“A tecnologia usada na atualização constante dos mapas mostra a cada jogador a destruição causada pelo garimpo ilegal na Amazônia. Para ajudar a frear essa devastação, todos podem contribuir assinando nossa petição #AmazôniaLivreDeGarimpo”, diz Jorge Eduardo Dantas, coordenador da Frente dos Povos Indígenas do Greenpeace.

Um estudo do Greenpeace Brasil revela que o garimpo ilegal devastou uma área de 1.409,3 hectares em 2023 nas terras indígenas Yanomami, Kayapó e Munduruku, o equivalente ao desmate de quatro campos de futebol por dia.

Outra agência que fez a conexão entre o mundo dos “games” e a temática da proteção dos povos indígenas e da floresta amazônica foi a Leo Burnett TM. Em agosto de 2023, a agência lançou o primeiro mapa de terras indígenas no “Fortnite”, um dos jogos on-line mais populares do mundo. O Mapa Originário no Fortnite foi criado para a SOS Amazônia, com consultoria da Federação do Povo Huni Kui do Acre e desenvolvimento da Hero Base, parceira da Epic Games.

Os jogadores precisam apagar o fogo das matas, eliminar as máquinas de madeireiros ilegais, expulsar garimpeiros, replantar árvores nativas e limpar rios. “Através do entretenimento estamos trazendo um tema de extrema importância e levando essa mensagem para as novas gerações através de uma ação de comunicação”, diz Vinicius Stanzione, v vice-presidente de criação da Leo Burnett TM.

Segundo Stanzione, a consultoria dos membros da Federação do Povo Huni Kui, do Acre, foi fundamental na elaboração final do Mapa Originário. “Pedimos algumas alterações no mapa para que ele ficasse exatamente como o nosso território”, disse o fotógrafo Isaka Huni Kui, coordenador da juventude da federação e um dos consultores da Leo Burnett TM. Entre as mudanças pedidas havia a colocação de uma mata ciliar, o escurecimento da cor dos rios e a remoção de uma montanha vulcânica.

Huni Kui também ajudou na segunda etapa da campanha, divulgada em março deste ano, com o lançamento de pôsteres na língua originária do povo Huni Kui, a Hãtxa Kui, que pertence ao tronco linguístico pano. A ideia é chamar as pessoas para jogar com frases como Txi Nukawa (Apague o fogo) e Nukú mae mekesukawê (Proteja as terras indígenas. Desde o lançamento, mais de 5 mil pessoas jogaram o Mapa Originário e foram feitas seis “lives” com 16 horas de transmissão, o que gerou 1,2 milhão de visualizações.

Davi Kopenawa, líder Yanomami, disse em entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura, na segunda-feira (15) que “o ouro é o sangue do meu povo”. A exploração ilegal do ouro, uma das principais questões que ameaçam o povo Yanomami levou a agência DM9 a utilizar o entretenimento e o digital para criar a campanha O Custo do Ouro para a Urihi Associação Yanomami.

A ação mostra um depoimento em vídeo do líder Júnior Hekurari Yanomami convocando os indicados ao Oscar 2023 a trocarem a estatueta de ouro por uma versão feita em argila com a imagem de Omama, o Deus criador dos Yanomami. Os indicados ao Oscar 2023 foram marcados no vídeo lançado nas redes sociais às vésperas da premiação de Hollywood. A campanha gerou 560 reportagens, 14 mil posts e um Leão na categoria “Design” do Festival de Cannes 2023.

“Além de conseguir a atenção da grande imprensa brasileira e internacional, a ação ganhou o engajamento de figuras públicas, como as ministras Marina Silva e Sonia Guajajara, e o DJ Alok”, afirmou Icaro Doria, copresidente da DM9 e chefe da criação.

Leia mais na matéria do jornal Valor Econômico

https://valor.globo.com/empresas/noticia/2024/04/22/publicidade-comeca-a-ficar-mais-atenta-aos-povos-indigenas.ghtml

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