Exportações do Brasil mais vulneráveis ao tarifaço nos EUA vão da castanha-do-pará (sem casca, fresca ou seca) do Amazonas ao sorvete de frutas de Belém

No Amazonas, a castanha-do-pará (sem casca, fresca ou seca) corresponde a um grau de dependência de 68,8%. Sorvetes produzidos no Pará respondem por 94,8% de dependência do mercado americano para exportações.
Um raio-X da pauta exportadora brasileira revelou que uma lista de 195 produtos tem dependência de ao menos 30% do mercado americano para suas vendas externas. Em alguns casos, o grau chega a 100%, o que dá a dimensão do impacto do tarifaço do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre as mercadorias nacionais.
O levantamento feito pela Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil), apresenta 80 mercados alternativos para os produtos mais afetados pelo tarifaço.
A lista é extensa. A água de coco aparece com mais de 90% de dependência do mercado americano para exportações em três estados do Nordeste (Ceará, Paraíba e Bahia), por exemplo. As exportações do produto da Bahia para os Estados Unidos alcançaram 99,2% de tudo que é vendido para o exterior.
Mel natural também tem grau de dependência do mercado americano em quatro estados (Bahia, Ceará, Piauí e Santa Catarina). Neles, o percentual varia entre 68,3% e 87,9%, caso do Piauí.
Um dos achados é o sebo de boi, utilizado na fabricação de produtos de higiene, limpeza e cosméticos. De acordo com o estudo, o índice de dependência do produto ao mercado americano chega a 100% em seis estados (São Paulo, Pará, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Paraná e Rio Grande do Sul). Em Tocantins, o percentual é de 96,9%.
Calçados também integram a lista de dependência de venda para os Estados Unidos no Rio Grande do Sul e em dois estados do Nordeste, Ceará e Paraíba.
Café em grão (não torrado), outro produto sobretaxado, tem Minas Gerais como principal estado fornecedor para o mercado americano: 80,5% do total das exportações brasileiras do produto têm origem no estado.
No Rio, o destaque são as preparações alimentícias e conservas de carne bovina: 99,9% da produção do estado voltada para o exterior são destinados ao mercado americano. Tradicional produtor de mármore, o Espírito Santo exporta 81,1% da mercadoria para os Estados Unidos.
No Amazonas, a castanha-do-pará (sem casca, fresca ou seca) corresponde a um grau de dependência de 68,8%. Outro produto do estado importado pelos americanos são as cartas de jogar.
Sorvete no Pará
Sorvetes produzidos no Pará respondem por 94,8% de dependência do mercado americano para exportações. Também chama a atenção a exportação de álcool etílico não desnaturado de Goiás, utilizado na fabricação de bebidas alcoólicas, com 95,6% de dependência dos Estados Unidos.
Aparecem ainda na lista camisas femininas exportadas pelo Distrito Federal, suco de acerola do Ceará, suco de maçã de Santa Catarina, suco de abacaxi da Paraíba, inhame de Pernambuco, óleos de essência de laranja, de Sergipe, além de peixes (atum, lagosta, tilápia) e frutas.
O estudo também cita mercados que podem ser o destino das exportações. Entre os exemplos de mercados alternativos, o estudo sugere Colômbia e Argentina para as cartas de jogar produzidas na Amazônia. Sebo de boi tende a ganhar mercado na Malásia e na Sérvia; óleo de essência pode ser direcionado para Itália, Índia e Cingapura; o álcool de Goiás para Filipinas, Reino Unido e Angola; castanha para Egito, Polônia e Austrália; inhames para Noruega e Emirados Árabes e suco de abacaxi para Chile e Chipre.
Para o presidente da Apex, Jorge Viana, o governo brasileiro precisa investir em novos mercados, mas não pode abandonar os Estados Unidos.
— É preciso insistir nas negociações e sermos pragmáticos. Até agora não houve da nossa parte nenhuma medida de retaliação —destacou Viana, acrescentando que as medidas de socorro aos setores prejudicados são importantes, mas paliativas.
A radiografia mostrou, de forma geral, que Ceará, São Paulo e Santa Catarina são os estados mais afetados pela tarifa, com grau de dependência de 44,9%, 19% e 14,9% respectivamente. Entre as regiões, Sudeste é a mais prejudicada, seguida por Nordeste